quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Cultura e qualidade de vida

Por Francisco Gonçalves


"Bem. Acho que podemos dizer que o calor chegou definitivamente a Presidente Venceslau, como diz um amigo e fotografo ,Nino Carvalho, que chegue este calor aos nossos corações.
Esta frase dele, tem tudo com o que estou determinado a escrever hoje, como podemos sentir a “força da cultura” agindo sobre nossas vidas e como nossas vidas e nosso modo de “ser” determina um “ser cultural”.
Para comentar isto, gostaria de usar um exemplo da cultura esportiva, que já foi uma marca da democracia social que vivemos. Estive conversando com Flavio Prado, nosso técnico de basquete, uma pessoa incrível que conheço há 25 anos, desde sua vida de atleta como jogador, já era inovador e dedicado, mesmo assim ouso dizer que hoje vive seu estágio de maior amadurecimento, pois dotado de uma cultura e visão sobre o basquetebol, conseguiu agregar um coletivo que observa no esporte seu caráter cidadão. Simbólico e econômico, chamando a atenção de um grupo de empreendedores para investir numa visão estratégica, impulsionada pela capacidade de agregar deste maestro das quadras e fora dela, como disse Flavio, “começamos a sentir o resultado de um trabalho de médio e longo prazo, que já mudou a vida destas garotas e tem apoio da comunidade”.
Esta visão de um projeto sustentável com muitas partes e personagens envolvidos, com horizontalidade na gestão, precisam antes de qualquer coisa de uma visão empreendedora. Quando aplicamos este raciocínio às políticas culturais podem encontrar duas resistências, que deve ser superada, uma coloca a cultura no patamar sacerdotal do campo das artes, esta visão costuma dividir os seres em cultos dos não cultos,. Também aplica a visão que a pessoa que produz, a arte é inspirada com capacidade sobre natural, outra resistência vem de quem vê a cultura como um evento, geralmente ligado mais ao conteúdo econômico de captação de bilheteria e consumo, que necessariamente um compromisso com o conteúdo apresentado ao público, geralmente associado ao que tem mídia e vai gerar imagem na “coluna social”, que trás retorno rápido. Como eu disse, são duas resistências, pois são pensamentos ultrapassados, um vem de uma visão do conceito dos “mecenas” do século XIII ao século XIX, o outro da “indústria cultural”, onde toda arte é um produto e domina o pensamento sobre cultura no século XX.
Ao olhar do século XXI sobre a cultura é da “cidadania cultural”, diretamente associada à capacidade da cultura estimular a qualidade de vida, criatividade, acesso a informação, descentralização, produção colaborativa e caráter local, assim vejo a cultura, e assim vejo os movimentos organizados em âmbito governamental para estimular a prática, consumo e formação de público.
A criação do Vale, cultura talvez seja o maior exemplo disto, para os que ainda não conhecem peço para que vejam textos no site do Ministério da Cultura, mas este projeto visa viabilizar através de parcerias das empresas e governo, o valor de cinqüenta reais para cidadão que ganham até três salários mínimos, além de quatro parcelas anuais no mesmo valor, para os beneficiários do bolsa família (respeito quem é contra o bolsa família, mas respeito simplesmente porque respeito o livre pensar, pois antes de debater este tema gostaria que as pessoas lessem o PDAS da ONU e UNESCO sobre o tema), assim o governo passa para a mão do cidadão a decisão sobre seu consumo cultural, com a abertura para um novo momento da cultura brasileira, com a visão que as pessoas passam a consumir cultura, superando a visão que pessoas são cultas e merecem incentivo, através de mecenas e editais, pois são iluminadas, ou que devemos estimular a produção cultural, através de leis de incentivo, que beneficia diretamente a produção.
            Por que acho isto importante? Acho que a partir do momento que a pessoa tem acesso a recursos para investir em cultura, também será dotado de liberdade para frequentar uma aula de ballet e realizar o sonho de seguir os passos da Carla, Fernanda, Yasmim e Luana. Poderá financiar a volta dos Bailes do Seu Miguel Belizário ou então ouvir “Se vira nos 30”, comprar um livro da Arthurzinha D’incao, Ari Florentino, Nicole Bueno, baixar uma música do Jefinho Batera e Blackout Band, Jhonny Hoots e Claudio Vanalli ou Carlinhos e Moretti. Assim criar novas referencias, entender que na sua cidade a cultura tem espaço para todos, pois é construída por um mosaico de iniciativas sustentáveis, afinal, não se faz cultura para tirar as crianças da droga, ou melhorar a concentração na escola, se faz cultura para uma criança ter a possibilidade de escolher, conhecer caminhos e perceber que a vida vai além do trabalho, e só vale o trabalho se trouxer qualidade de vida.
            Por fim, gostaria de deixar uma sugestão para políticas públicas de cultura na cidade, para além de eventos pontuais em parceria pontuais, que vem demonstrando limites até para a construção de público. Já apoio iniciativas como as propostas pela Associação ACAPOEIRAE e o Instituto Preserva, engajados na estruturação de “casas de cultura” por toda cidade. Usar espaços abandonados, como as ex-creches ou o casarão do Álvaro Coelho, em parcerias com entidades, mas entidades sérias, sem estas que vem para tirar uma "graninha" e fazer um espetáculo aqui e outro ali. Dgo de gente que esta comprometida com a construção de processo de inclusão, que deixem portas abertas para a cidadania. Acho que poderíamos começar com quatro casas de cultura, uma dedicada a memória, uma dedicada a cultura tradicional, uma dedicada a dança e por fim uma dedicada a música, com programação acolhedora, no contra turno escolar e finais de semana, com ambientação para receber a comunidade em oficinas, exposições, palestras, além de abrir espaço para realização de festas de aniversário e pequenos bailinhos, cada uma dotada de uma biblioteca e espaço para artesanato. (Escrevo isto, pois sei que o prefeito e presidente da câmara lêem esta coluna. Então está a resposta para a pergunta que me fizeram). Quem sabe em pouco tempo, com investimento inicial da prefeitura, aos poucos a comunidade se apodera da gestão destes espaços, com pequenas taxas para realização de eventos, ou consumo de produtos produzidos ali. Seria um primeiro passo, que daríamos para estruturar um núcleo de cultura que começa a ressurgir na cidade.
            Obrigado aos que continuam acompanhando a coluna. Esta semana tem agito. Oficina literária na quinta-feira na Biblioteca. A querida Sandra e Zefa nos esperam com o café quente e ótima programação. Na sexta tem teatro, sábado tem festival de capoeira na quadra da CECAP, oficina de fotografia e a aguardada segunda edição do “Frango no Tacho”, com porções encantadas de alegria, cerveja gelada em preço honesto, e música da melhor qualidade, salve “Sol e família”, sua benção Dona Elza. Acha que acabou? No domingo tem bingo no “Espaço Cultura Recanto da Viola”, faz parte dos preparativos para o grande encontro de violeiros que vem por ai em Dezembro. Na verdade, Dezembro vai chegar cheio de novidades. Espero vocês na segunda-feira, para a reunião do conselho municipal de cultura às 19h30min, na biblioteca. Não seja anônimo, participe da mudança que quer para o mundo".

Fonte: Portal Bueno

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